“Only a small part of our responsibility lies in the area of aesthetics” Victor Papanek

 

Tal como Papanek defendia a criação de um produto envolve mais que uma simples criação estética e aparentemente sustentável. Não interessa criar uma garrafa totalmente reciclável, com um rótulo de papel reciclado e com uma forma interessante, se para a fabricar se utilizou o dobro do carbono que será utilizado para a reciclar, e ainda se o seu conteudo não se encontrar de acordo com os princípios utilizados no seu exterior (por exemplo se esta garrafa for o contentor de um sumo que não possua qualquer elemento natural, for maioritariamente produzido com concervantes, produtos químicos e nefastos para a nossa saúde). 

Com base nesta ideia a LemonAid Beverages GmbH criou primeiro o conteudo das suas garrafas e só depois procurou uma linguagem gráfica que se adaptasse aos seus valores sustentáveis. O resultado: uma parceria entre a empresa Alemã e a Blidholm Vagnemark Design (empresa sueca de design, que ganhou grande relevância ultimamente e que se destaca por todos os anos desenhar a garrafa de Mulled Wine, uma bebida natalícia tradicional sueca ), que desenhou as garrafas da Lemon Aid e do Chari Tee que vemos na imagem.

Chari Tee é um chá natural com adição de frutas naturais, é totalmente orgânico e tem a marca fair trade. “The world’s oldest drink is getting trendy again”, diz  Susanna Nygren Barrett a directora creativa da BVD. Lemonaid foi a primeira bebida desenvolvida pela empresa e reflecte os seus princípios sustentáveis: limonada feita em casa e resultante de consecutivas experiências numa cozinha de Hamburgo. O sumo de limão era misturado com diversas quantidades de açúcar e água mineral e dado a provar a amigos, até chegar ao perfeito resultado final. Os produtos usados são 100% fairtrade – limões da pequena cooperativa brasileira Coagrosol (que já conseguiu construir uma escola com computadores de modo a assegurar a educação das gerações futuras) e açúcar de uma cooperativa do Paraguais chamada La Felsina e cujo projecto é construir uma clínica dentária. Além de tudo isto, por cada garrafa vendida, uma percentagem é enviada para suportar projectos sociais nos paises de origem dos ingredientes.

Este é um exemplo em que a responsabilidade vai muito para além da estética, até porque as garrafas usadas têm uma forma simples e clássica com o intento de não parecerem over-designed. O sucesso foi garantido uma vez que são vendidas até em bares elitistas, para serem misturadas com bebidas alcoólicas. Têm também, cada vez mais, vindo a ser referenciadas em sites de trend forecasting como o trend hunter, o que demonstra um interesse social cada vez maior por este assunto e uma mudançao ainda que suave no rumo sociológico ao nível das tendências de mercado.

 

Give to Get it


 

Give to Get it

Dar para receber. Dar o dobro do que estamos habituados para, por fim, entender o verdadeiro valor dos serviços que nos são prestados, dos produtos que compramos, do trabalho por detrás do mercado actual. Dar até parar de sobrevalorizar produtos e subvalorizar quem os produz. Dar de uma forma justa, dar no sentido de dever cívico, na medida em que devemos, enquanto membros daquilo a que chamamos uma Humanidade desenvolvida, pagar justamente por aquilo que consumimos.

Com este blog pretendo reflectir sobre as iniciativas relativas ao comércio justo, esclarecer os leitores sobre as organizações que já trabalham nesta área, divulgar novos projectos e consciencializar o maior número de pessoas para o facto de que tendo em vista o crescimento económico sustentável, devemos, hoje em dia mais do que nunca, valorizar as riquezas e tradições de cada local, desenvolvendo os pequenos mercados que possuem qualidade e trabalhadores com anos de experiência e não procurar mercados descartáveis e emergentes que oferecem um serviço inferior com custos desumanamente reduzidos. Não nos podemos esquecer que, por vezes, os pequenos preços conseguem-se à custa de grandes sacrifícios.

O Comércio Justo (CJ) é um movimento social e económico que pretende construir uma alternativa ao comércio convencional. Ao contrário deste, que tem em conta apenas critérios económicos, o CJ rege-se também por valores éticos que incluem aspectos sociais e ambientais. Significa colocar o comércio, quer de produtos quer de serviços, efectivamente ao serviço das pessoas, buscando o desenvolvimento sustentável das comunidades locais e do mundo como um todo. O que implica, antes de mais, um trabalho digno para todas as pessoas envolvidas e a adequação das actividades económicas às suas necessidades e aos seus interesses.